Pesquisadores mapeiam fluxo de carbono nos três biomas do estado
Por Carlos Antonio da Silva Junior
18/09/2023

A presença do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera é fundamental para a manutenção da vida na Terra, pois ele é responsável pelo aprisionamento da temperatura. Porém, nos últimos anos, o aumento da concentração desse e de outros gases poluentes têm provocado um desequilíbrio termodinâmico, afetando o clima e aumentando a temperatura média do planeta.
Pesquisadores Paulo Eduardo Teodoro e Carlos
Antonio da Silva Junior em coleta de dados na área de eucalipto
Para retomar esse equilíbrio, governos e representantes do setor
produtivo, especialmente, vem adotando a medida carbono neutro, por meio de
estratégias de compensação que promovam a absorção e remoção do gás carbônico
da atmosfera. Para entender melhor como se dá o fluxo de carbono em Mato Grosso
do Sul, os pesquisadores estão realizando estudos para mapear o gás carbônico
nos três biomas presentes no estado – Pantanal, Mata Atlântica e Cerrado. A
pesquisa conta com financiamento da Fundação de Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia (Fundect-MS), do Governo do
Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Chamada Carbono Neutro, uma
iniciativa inédita no país, lançada em 2021. Sob coordenação de Paulo Eduardo
Teodoro, do Câmpus de Chapadão do Sul (CPCS) da UFMS, em conjunto com Carlos
Antonio da Silva Junior, da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) –
Câmpus de Sinop, o projeto recebeu R$999.512,50 da Fundect-MS e foi executado
com auxílio financeiro da Unemat/Câmpus de Sinop de mais de R$20.000,00 para
despesas da viagem para coleta dos dados in loco.
Em cada um dos biomas, são avaliados quatro diferentes usos e ocupação
do solo – vegetação nativa, pastagem, cultura de soja e eucalipto. De acordo
com Paulo, o objetivo é identificar quais atuam como fontes e/ou sumidouros das
emissões de carbono e, com os dados obtidos, criar um modelo matemático preciso
para uso via satélite. Ele destaca que o solo tem grande importância no ciclo
do carbono porque é tido como seu maior reservatório, mas isso depende de
fatores como a cobertura vegetal, tipos e práticas de manejo. “Os estoques de
carbono no solo são indicadores-chave em termos de mudança climática, por isso
é importante termos estudos científicos de como acontece o fluxo de CO2 em cada
um dos nossos biomas e nas principais culturas econômicas do nosso Estado”,
detalha.
A professora do CPCS Larissa Pereira Ribeiro Teodoro também integra o
grupo de pesquisadores. Ela explica que geralmente a vegetação nativa é vista
como um sumidouro de CO2 por ser um solo que nunca foi mexido, com uma
microbiota muito rica que contribui para absorção de carbono pelo solo. “Quando
há ação humana, quando o solo é revolvido, fica mais exposto e libera mais dióxido
de carbono para atmosfera, por isso, teoricamente, a agricultura e a pastagem
são as atividades agrícolas que mais liberam CO2. O objetivo da nossa pesquisa
é quantificar isso nos biomas Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica”, diz a
pesquisadora.
Curva espectral do solo
O trabalho de coleta de dados e amostras de solo a campo contou com uma
equipe de 15 pessoas, entre pesquisadores e estudantes de pós-graduação.
Durante 13 dias seguidos, eles fizeram uma jornada a três municípios:
Deodápolis, região Sul do Estado, onde há resquícios de Mata Atlântica,
Aquidauana, início do Pantanal e Chapadão do Sul com sua extensa área de
Cerrado. Em cada um destes locais foram selecionadas áreas de vegetação nativa,
de pastagem e eucalipto que tinham o mesmo uso e ocupação de solo por pelo
menos quatro anos. No caso da agricultura, foram escolhidas áreas com cultivo
de soja durante a safra com histórico de pelo menos quatro anos-safras. Nestas
áreas, as avaliações ocorreram durante o pico vegetativo da cultura, aproximadamente
60 dias após a emergência.
Nesta parte do estudo os pesquisadores contaram com equipamentos de
última geração, o EGM-5 e FieldSpec 4, que somados custam mais de 100 mil
dólares. Larissa Teodoro explica que os aparelhos possibilitam a construção da
curva espectral do solo, além de medir a temperatura, umidade e fluxo de
CO2. “Ele mede a radiação solar que incide sobre o solo. Quando a luz do
sol toca a terra, uma parte dela é absorvida e a outra refletida. E todos os
elementos químicos ali presentes têm uma reflectância, uma assinatura
espectral, entre eles o CO2, o que nos permite medir o quanto de carbono está
sendo emitido”, comenta a pesquisadora.
Segundo os pesquisadores, em cada um dos três biomas e usos e ocupações
foram medidas as curvas espectrais e coletadas 200 amostras de solo, em duas
profundidades, para avaliar a emissão e o estoque de carbono. No total foram
1,2 mil amostras encaminhadas para laboratório. Resultados importantes
revelados pelo estudo apontam que o eucalipto, independente do bioma, é a
cultura que menos emite CO2, até mesmo quando comparada com a vegetação nativa,
e a pastagem é a que mais emite. “Os dados de estoque de carbono ainda estão
sendo processados para cálculo do balanço final. Conhecendo esse balanço final em
cada uso do solo, o Estado pode traçar estratégias para minimizar as emissões
de carbono de Mato Grosso do Sul, buscando um equilíbrio entre nossas
principais culturas econômicas’, pontua Paulo Eduardo Teodoro.
A fase de coleta de amostras de solo nos três biomas já foi concluída e
as análises em laboratório estão em fase final. O próximo passo do estudo, que
será realizado pelos membros do Geotecnologia Aplicada em Agricultura e
Floresta da Unemat, é a criação de um modelo matemático e sensoriamento remoto
que permita fazer medições em larga escala e com baixo custo.
“Hoje a forma convencional de medir a emissão de CO2 do solo exige
equipamentos de alto custo, além de demandar muito tempo e mão de obra,
especialmente em grandes áreas. Os modelos espectrais, que associam
sensoriamento remoto e modelagem matemática, vão tornar isso mais fácil e
acessível”, comenta Teodoro. Além de Paulo e Larissa da UFMS e Carlos da
Unemat, integram o grupo os pesquisadores Fernando Saragosa Rossi, Rafael
Felippe Ratke, João Lucas Gouveia de Oliveira, Natielly Pereira da Silva, Fábio
Henrique Rojo Baio, do CPCS/UFMS; Dthenifer Cordeiro Santana e Izabela Cristina
de Oliveira, da Universidade Estadual Paulista; e João Lucas Della Silva e
Francisco Eduardo Torres da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
Para o diretor científico da Fundect, Nalvo Franco de Almeida Júnior, o
projeto é importante para estabelecer a relação de causa e efeito das emissões
de carbono em MS. “Este projeto certamente levará a uma consistente relação de
causa e efeito entre as variáveis para que seja possível modelar o balanço de
carbono nos usos e ocupação do solo nos diversos biomas do Estado, permitindo a
elaboração de uma plataforma para divulgação dos dados obtidos”, avalia Nalvo.
Destaque Nacional
O projeto foi destaque na 78ª Semana Oficial de Engenharia e Agronomia,
que aconteceu em Gramado (RS), no mês passado. O evento tinha como temática as
mudanças climáticas, com palestrantes nacionais e internacionais. A pesquisa
foi selecionada em primeiro lugar entre os 24 trabalhos participantes do
Congresso Técnico que integra o evento e abre espaço para apresentação de
trabalhos científicos. “Escolhemos o título – Estratégias para tornar MS
carbono neutro até 2030 – e o estudo chamou atenção por ter a pesquisa aplicada
para apontar uma solução”, explica Paulo
Paulo destaca a importância do investimento do governo do Estado, via
Fundect. “Ciência e política devem caminhar juntas para solucionar os problemas
da sociedade. A Fundect fez a primeira Chamada Carbono Neutro do país e hoje é
exemplo para outras fundações de apoio, por isso sinto orgulho enquanto
sul-mato-grossense, de Aquidauana, enquanto cientista, poder estar em um Estado
que valoriza a pesquisa”.
Texto: Vanessa Amin e Maristela Cantadori/Fundect-MS
Fotos: Acervo Pesquisador
Assessoria de Comunicação - Unemat
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