CIÊNCIAS CONTÁBEIS
Projeto Político Pedagógico
Perfil do egresso
A fase do capitalismo que se impõe no século XXI impacta definitivamente a maneira
como o trabalho é realizado. Durante o século XX, as pessoas se prepararam para desempenhar
carreiras em uma mesma organização, ocupando funções que raramente eram modificadas.
Profissões tradicionais eram aprendidas nos cursos universitários, e muitas delas nem requeriam
que houvesse cursos de reciclagem após a formação.
Mas a tecnologia modificou o padrão de produção, e o capitalismo entrou em uma fase
de alta concentração. Grandes grupos econômicos se fundem, e conseguem com isso sinergia
para dominar mercados, oferecendo produtos e serviços que antes não seriam possíveis ou
acessíveis, mas também expulsando concorrentes menores. No processo de desenvolvimento,
tudo que pode ser substituído por robôs é assim processado, como forma de aumentar a
produtividade e o controle. Ao trabalhador, gradativamente, sobra o trabalho na gestão dos
grandes empreendimentos (poucos e excelentes postos de trabalho), ou fazer parte do mercado
de serviços personalizados, cuja atuação humana ainda é mais barata que o uso de robôs.
Atualmente, muitas pessoas ganham a vida trabalhando para uma das maiores empresas de
transporte, Uber, sem ter vínculo empregatício. Muitas outras ganham a vida explorando seus
imóveis ou parte deles, numa grande empresa de hotelaria, o Airbnb.
A profissão do contador também está sendo impactada nesse processo de
transformação. Mas não se trata, neste caso, apenas do uso de plataformas on-line para a oferta
de serviços tradicionalmente explorados por escritórios de contabilidade. Trata-se da mudança da
forma como as pessoas fazem negócios. O perfil dos clientes está mudando, porque a forma
como se trabalha e se produz está sendo modificada. As startups, empresas que desenvolvem
produtos e serviços inovadores, só conseguem progredir se criarem sistemas de produção que
diminua custos de transação na cadeia produtiva, e que, portanto, também necessitam de
serviços contábeis igualmente inovadores. Para estas empresas, cálculos de viabilidade
econômica, de construção de cenários alternativos para tomadas de decisões e de valuation são
mais importantes do que a apuração do lucro propriamente dito: caso consigam conquistar um
conjunto relevante de clientes para seus negócios, logo são compradas pelos grandes
concorrentes de seu mercado, por preços que tem relação com o potencial de geração de caixa, e
não pelo seu valor contábil.
Isso não quer dizer, entretanto, que os serviços contábeis tradicionais serão
abandonados. As grandes organizações continuarão regulando suas relações formais com o uso
da contabilidade, e cada vez mais o padrão contábil tem sido integrado totalmente com os
sistemas decisórios. Mas da mesma forma como ocorre a concentração de capital (poucos
competidores, enormes, em cada mercado), também este tipo de trabalho acaba se tornando mais
raro, em termos de proporcionalidade em relação ao número de profissionais atuantes. Já o
trabalho que os escritórios contábeis geralmente prestam às pequenas empresas, com forte
ênfase na burocracia do Estado, num primeiro momento tende a se ampliar (com o e-social, por
exemplo). Porém, com os avanços tecnológicos, é questão de tempo para que o fisco e demais
órgãos do aparato de Estado absorvam ou eliminem a burocracia. A diminuição de regras de
fiscalização, a mudança nos direitos trabalhistas, e a desobrigação de publicação das
demonstrações contábeis em jornais são exemplos de como o mercado baseado em regras
burocráticas pode ser diminuído.
O fato é que a economia mundial está em crise, e esta crise significa que a forma como
as organizações estruturam-se para produzir precisa ser repensada, e está sendo repensada.
Nesse ambiente de crise, é difícil definir um padrão TÉCNICO para se definir uma profissão: a
prática aprendida pelo profissional em sua formação pode ser abandonada pelo mercado pouco
depois. Mas a formação CIENTÍFICA permanece, pois é construída sobre os saberes mais
profundos que a realidade apresenta para cada área profissional. E a formação científica da
contabilidade transpõe a capacitação dos alunos sobre o método das partidas dobradas, para
ensiná-los a serem capazes de compreender as trocas econômicas entre os agentes, e avaliar
diferentes cenários para tomadas de decisões. Em outras palavras, a formação científica olha a
contabilidade como a linguagem de negócios, para ensinar os alunos a fazerem negócios. O
contador no novo milênio é aquele que sabe encontrar oportunidades nos mercados e cadeias
produtivas, porque sabe projetar, avaliar e analisar fluxos de caixa, e relatá-los sempre que
necessário para formalizar contratos. O processo contábil não é mais algo para ser desenvolvido
com base em dados passados, mas uma práxis que inclui também uma postura ativa e prática
mental, para reconhecer, mensurar e, se for o caso, evidenciar, possibilidades patrimoniais em
oportunidades de negócio.
Assim, definido num sentido macro, o perfil do contador, ou o perfil do egresso em um
curso de ciências contábeis, é de um profissional capaz de compreender mercados, cadeias
produtivas e o ambiente de negócios que se estabelece nos processos de produção, sendo capaz
de analisar e propor cenários decisoriais para que as tomadas de decisões sejam realizadas com
eficiência e eficácia. Mas num sentido estrito, o perfil do egresso depende ainda de sua formação
contextualizada, inserida no ambiente regional e suas variáveis sociais, econômicas e ambientais.
Sabendo que postura deve ter, que saberes deve utilizar, e compreendendo o ambiente em que
se insere, o profissional de ciências contábeis entra no mercado de trabalho com chance de se
tornar necessário, mesmo diante de ambientes em mutação, como é o caso da economia
contemporânea.